#012 - Todo fim de ano, aquela do Belchior
Não sei como chegamos até aqui, foi um prazer, mas tá na hora de Jair embora, 2022
É chegada a hora. O ano entra em sua reta final e como quase todo mundo que anda por aí escrevendo como se isso fosse fazer alguma diferença no mundo, estou eu aqui pra uma última edição dessa viagem louca sem ácido que me propus neste 2022. É a 12ª edição, de modo que faz parecer que escrevi uma por mês, mas comecei em maio, então a frequência até que não está das piores.
Ando particularmente ansioso por esse fim de ano, como todo mundo, pra me livrar de uma vez por todas ao menos do governo Bolsonaro, é claro. Mas acho que tem mais aí, não é puramente pela questão do consciente coletivo, mas também de coisas minhas. Tive um mini recesso na semana anterior ao Natal, porém voltei a trabalhar no dia 26, o que me deu a impressão de que esse ano está tão difícil de acabar que a gente encerra 2022, mas no fim está sempre nele.
Como todos os anos, vai chover gente citando “Sujeito de Sorte”, do Belchior, nesses próximos dias. Os versos “Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro / Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro” se tornaram clássicos de réveillon como “Então é Natal”, na voz de Simone, uma semana antes. Mas minha ansiedade para o começo de 2023 prefiro selar com o verso “E assim já não posso sofrer no ano passado”, da mesma canção.
Às vezes me pego pensando que esse verso não é exatamente esperançoso, como talvez boa parte das pessoas pense. Me parece mais um desabafo de alívio, dado todo sofrimento que o “ano passado” deve ter causado em Belchior. Ele não diz que não sofrerá no “ano atual” ou no “ano que vem”. Só me parece aliviado que pelo menos o sofrimento do ano passado acabou, assim ele pode fechar a conta desse ano com uma quantidade x de sofrimento, nada mais. Porém, o ano que se inicia possivelmente virá com novos sofrimentos a serem contabilizados.
Eu já tinha todo um texto preparado para essa derradeira carta de 2022, mas como sempre não estava satisfeito. Eu citava algumas coisas relacionadas às primeiras edições, enviadas em maio, e que se relacionavam com acontecimentos desse meu fim de ano, mas tudo tão desinteressante quanto sempre. Tantas palavras aleatórias enfileiradas buscando algum significado… e sei lá, parece que nada importa de fato.
Acho que esse ano pra mim foi talvez menos de mudanças e mais de encontrar alguma estabilidade. A vida às vezes parece um caminhar vendado sobre uma corda bamba, mas que em algum momento vai culminar em um encontro com uma base mais firme. Seja numa queda ou no fim da travessia. Eu caí muitas vezes, em muitos anos. Também caí em 2022, mas acho que recomecei e finalizo o ano chegando ao fim da corda. De toda forma, ainda chego vendado. Não dá pra saber o que há do outro lado. Não sem vivê-lo.
Talvez todo ano seja uma grande corda bamba. Talvez todo ano estejamos vendados. Talvez todo ano a gente consiga atravessá-la. E todo início seja mais uma corda nova. Um eterno mito de Sísifo rolando sua pedra até quase o topo da montanha, e tendo que recomeçar de novo e de novo e de novo.
Presentemente, eu posso me considerar um sujeito de sorte? Não sou mais tão novo, não sei se me sinto tão são, nem salvo, tampouco forte. Deus é brasileiro e anda do meu lado? Eu não acredito sequer que ele exista. Ainda assim, espero que em 2023 eu não possa sofrer no ano passado.
Poucas vezes acreditei tanto em algo como no título da Argentina na Copa de 2022. Há pelo menos 2 anos venho dizendo coisas como “seremos” ou “quem quiser comemorar a Copa do Mundo, que torça pela Argentina agora”. Meus amigos talvez tenham ficado cansados de mim, dessa minha devoção, talvez sem sentido pra eles, a uma seleção que é a maior rival daquela para a qual faria mais sentido eu torcer. De toda forma, eu avisei que seríamos, e fomos.
Recebi uma porção de mensagens de amigos me avisando que na final torceriam pela Argentina, e outras tantas se assegurando de que eu ainda permanecia vivo após o jogo decisivo. Fui marcado e lembrado por várias pessoas. Não esperava mesmo por isso. Obrigado a todos. Foi um dos dias mais legais de todos. Obrigado também a Lionel Scalone e sua Scaloneta, e também a Di María, Dibu Martínez e, obviamente, ao menino de Rosário que um dia sonhou defender a seleção do seu país, Lionel Messi. Agora imortal ao lado de Diego Maradona.
E por falar em imortais, nessa semana morreu Pelé. Uma amiga me perguntou se tinha me doído escrever, por conta do trabalho, “o maior jogador de futebol da história”, obviamente sabendo da minha devoção à Argentina e a Maradona/Messi. “Nem um pouco”, respondi. As coisas são como são. Ninguém no mundo é ou foi do tamanho de Pelé. Sua morte deixou claro pra quem ainda tinha dúvidas. Não muda o fato de que não é meu personagem futebolístico favorito.
O Rei está morto. Morreu Ele: o Pelé dos Pelés. Vida eterna ao Rei, como disse a Trivela.
Por hoje, por esse mês, por esse ano, é isso. Que em 2023 a gente volte a viver, que é melhor que sonhar, mas essa já é outra do Belchior.
Um beijo e até a próxima!
PS: Talvez já na primeira semana do ano, com uma lista dos meus filmes favoritos de 2022 e mais uma ou outra coisa. 2023 terá mais curadoria, prometo.
Arte: La Danseuse de Corde (1899), de Henri de Toulouse-Lautrec. (lá no topo)
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