#011 - Un pueblo sin piernas, pero que camina
A quem interessa impedir Beethoven de compor a 9ª Sinfonia?
Las caras más bonitas que he conocido
Soy la fotografía de un desaparecido
La sangre dentro de tus venas
Soy un pedazo de tierra que vale la pena
Una canasta con frijoles
Soy Maradona contra Inglaterra anotándote dos goles
Soy lo que sostiene mi bandera
La espina dorsal del planeta es mi cordillera
Soy lo que me enseñó mi padre
El que no quiere a su patria, no quiere a su madre
Soy América Latina
Un pueblo sin piernas, pero que camina, ¡oye!”“Latinoamérica” - Calle 13
17 de dezembro de 2022. Véspera da final da Copa do Mundo do Qatar. Véspera de mais um capítulo histórico do futebol. Não é uma Copa comum, e vamos nos ater apenas ao futebol nesse sentido. O que não quer dizer que não importam todas as problemáticas políticas e sociais envolvendo a realização do evento nesse país. Mas enfim, respira fundo, eu não sou capaz de falar sobre tudo. Eu não sou capaz de falar sobre quase nada. Ainda mais nesse fim de semana.
O momento histórico é outro. Essa Copa também está marcada pela muito provável aposentadoria em Copas do Mundo de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Dois dos maiores jogadores da história, certamente os dois maiores deste século. Desde o início, sabíamos que na melhor das hipóteses (para o futebol) apenas um deles teria a chance de se aposentar com um título mundial pela sua seleção.
Já não aconteceu com CR7, que fez uma apresentação deprimente para o nível que ele já chegou na carreira, e terminou a competição amargando dois jogos em que começou no banco de reservas, sendo que no primeiro deles assistiu de lá mesmo seu substituto marcar três vezes.
Mas a partir deste dia 18, inevitavelmente, todos os livros da história do futebol passarão a registrar a glória ou a infelicidade de Messi em mais uma final de Copa. Acredito que a maior parte das pessoas que ainda tinham dúvidas, a partir dessa Copa, talvez não discutam mais quem foi maior para o futebol, se Messi ou Cristiano. Afora as torcidas individuais e clubísticas por um ou por outro, talvez o consenso geral seja de que Messi provavelmente é o maior jogador do nosso tempo no esporte mais popular do planeta.
Certamente, muita gente considera o futebol quase como uma forma de arte. Se pensarmos de modo mais racional nessa comparação, talvez se assemelhe como uma dança realizada por 22 jogadores em um palco demarcado por linhas brancas pintadas em um gramado verde. Mas como é difícil dissociar a dança da música, talvez eu goste mais dessa segunda comparação.
Há jogadores rockstars, há aqueles músicos excelentes porém ofuscados por alguma grande estrela mais talentosa ou carismática no palco, há toda uma matemática envolvida em esquemas táticos e estratégias para barrar ou superar adversários, e há também muito improviso. Um time talvez possa ser lido como uma big band de jazz. Mas quando se trata de Cristiano Ronaldo e Messi, talvez uma comparação válida seja com Antonio Salieri e Wolfgang Amadeus Mozart, pela contemporaneidade, pela inevitável rivalidade etc. Não preciso dizer aqui quem pode ser um e quem poderia ser outro. Você deve estar rindo desse tipo de comparação absurda, porque até eu mesmo estou. Não julgo, porque ela é mesmo.
Futebol não é música. Oficialmente nem é considerado arte. Mas em momentos como uma Copa do Mundo, é difícil não enxergá-lo como algo até mesmo superior. A alegria proporcionada pela Copa do Mundo pra quem ama futebol é algo inexplicável, e ver seu time em uma final é excitante ao mesmo tempo que aterrorizante.
Como você talvez saiba, torço pela Argentina. E torcer pela Argentina no Brasil soa como uma grande ofensa para muita gente. Eu não me importo. O Brasil pode ter mais títulos, pode ser “o país do futebol”, pode ter o maior número de astros nessa “arte”, mas as coisas não são tão racionais quanto parecem. E talvez eu dê ao futebol uma importância diferente, onde não é apenas sobre vencer.
Não vou discorrer aqui sobre os motivos que me fazem torcer já há tantos anos pela Argentina. Basta que saiba que talvez não seja puramente racional mesmo. É emocional, é como é. Ou você sente ou não. E quem não, vai buscar a racionalidade para explicar sua torcida contra: por ser o maior rival do Brasil, por serem irritantes, por muitos argentinos serem racistas etc.
Toda racionalidade é compreensível, mas é como querer medir em litros a grandiosidade do universo. É possível em pequenas partes, mas incapaz no todo. Hoje eu tô cheio de comparações esdrúxulas. Você que lute. A seleção pela qual torço está em busca do seu terceiro título mundial, a coroação do maior jogador do nosso tempo. Racionalidade não é o forte aqui nesses tempos.
Hoje talvez seja o último dia da Argentina como bicampeã do mundo. Possivelmente, amanhã ela será tri. E se não for, lembraremos todos que o maior nome desse esporte nesse século, ao menos, pode encerrar suas participações em Copas sem o tão sonhado (e merecido) título. Futebol não é sobre justiça (tem que acabar o VAR!). Tantos outros jogadores também não o conquistaram. Talvez nenhum da grandiosidade de Messi, mas não é seu tamanho, sua importância, tampouco seu talento, que lhe garante esse direito.
Maradona, o maior ídolo da Argentina e talvez o maior personagem da história do futebol, conquistou sua Copa. Imortalizou sua passagem pela Terra com a glória máxima desse esporte. É tratado como deus, D10S, em seu país, e Messi jamais será para os argentinos tão grande quanto Diego. Mas campeão, certamente será colocado a seu lado como uma divindade. Como Pai e Filho, El Pibe de Oro e La Pulga, dois dos maiores acontecimentos dessa arte ou esporte.
Não sei se jamais qualquer outro personagem terá tenta relação com o povo argentino quanto Maradona. Messi se mudou para a Espanha criança. Por uma parte da torcida argentina, e por bastante tempo, foi cobrado por não ser sanguíneo como Diego, e considerado espanhol por muitos. Só depois de anunciar sua aposentadoria da seleção uma vez é que foi abraçado pela torcida de uma vez por todas, e hoje é amado e reconhecido por, obviamente, ser argentino.
Com Maradona a relação é outra, ele é o espírito sanguíneo latinoamericano. De origem pobre, defensor dos seus iguais, malandro e capaz de tudo para vencer no campo ou fora dele quem oprimiu toda uma fatia desse continente ao longo da história. Futebol e política não se desassociam na Argentina. E a paixão dos argentinos por Maradona não se compara a qualquer outra dentro do futebol.
Lembro de uma entrevista com um argentino quando da morte de Maradona, e esse homem chorava na rua em frente a um dos muitos memoriais feitos ao jogador. Um repórter lhe pergunta o que Diego Maradona significava pra ele, e ele responde que, nos anos 1980, quando muitos argentinos não tinham sequer o que comer, Maradona os fazia sorrir. Creio que não haja mais o que dizer. Ou você sente ou não.
Saberemos amanhã (caso você leia essa newsletter no dia em que ela for enviada) qual o capítulo dessa história estará reservado a Lionel. Nesse momento, se fosse pra manter essa correlação esdrúxula entre futebol e música, Cristiano e Messi, pra mim, não seriam Salieri e Mozart. Eu não sei quem seria o primeiro, mas o argentino certamente seria Beethoven. E eu não sei você, mas a mim não interessa torcer pra que ele não componha sua 9ª Sinfonia. Me perdoem, não é pra fazer sentido. Eu morro amanhã.
¡Vamos, Argentina, carajo!
¡Pongan huevos, muchachos!
Obrigado a todos os amigos que não me odeiam por torcer pela Argentina, por todas as lembranças e checagens se tenho passado bem durante e após as partidas, e pelos convites que recebi para assistir à final. Assistirei na casa dos meus pais, ao lado do meu irmão mais novo, também torcedor fanático da albiceleste (assim como minha irmã, em outro estado, parece ter se tornado também). Ganhando ou perdendo, estarei com ele, isso é o que importa no fim. Mas que ganhe, plmdds, porque a tristeza de perder a gente já viveu! Por hoje, é isso. Um beijo e até a próxima. Se tudo der certo, ainda esse ano e tricampeão do mundo.
Arte: Liniers (lá no topo)
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