Sobre o desejo de desistir de gostar
ou Vamo combinar de parar de se importar com like?
Ando sempre meio sumido daqui. Como sempre, acho que tenho muito pouco a contribuir, embora a vontade de dizer seja grande. Mal tenho tido tempo e disposição a me dedicar às leituras e a outras coisas que gosto, que dirá enfileirar palavras que interessam a tão poucos.
Mas estava de madrugada tentando diminuir o número de newsletters acumuladas na caixa de e-mail e no app do Substack, que concentrou lá algumas news por um erro nas configurações, quando me deparei com um comportamento padrão: após ler a maior parte dos textos, eu acabava clicando no botão de like ao fim de cada edição.
Veja bem, isso não é tecnicamente ruim, demonstrar que gostou do que alguém produziu, muito pelo contrário. Mas me incomodou que, especialmente após o “fim” do Twitter e do Instagram (sonho meu), com a debandada de pessoas dessas redes que acabaram migrando para o Substack, essa plataforma aqui tem se tornado cada vez mais uma alternativa pra quem não quer brincar no playground de incels e neonazistas. O “problema” (sei lá se é problema, tô apenas constatando algo) é que o Substack aproveitou para tentar se aproximar cada vez mais daquelas outras plataformas, e a focar boa parte dos seus esforços em se transformar em algo mais com cara de rede social, provavelmente para tentar fidelizar os novos usuários.
Eu sei lá, cada um faz o que quer e eu também, mas me dei conta de que esse negócio de só dar like, quando muito, em um conteúdo que vi aqui e gostei, apenas contribui pra essa rede-socialização de uma plataforma que inicialmente não tinha exatamente esse propósito — o que possivelmente deve me fazer perder o interesse se de fato vier a se tornar isso.
Essa coisa do like, e de como me percebi distribuindo corações como quem distribui doces em dia de Cosme e Damião, me pegou em cheio, porque me parece o resumo trágico da ansiedade que o algoritmo das redes causou em todos nós. Essa pequena dose de dopamina que nos deixou viciados em “sermos gostados”, e sedentos cada vez mais da aprovação alheia por meio de um clique. E quando ela não vem, a frustração toma conta. Uso o Substack já tem um tempo e nunca ninguém se preocupou com isso, mas agora parece que virou uma coisa. Não me parece saudável.
Talvez isso aqui seja mais, e quero focar em:
não dar like nos conteúdos que gosto, mas enviar o link direto pra alguém que também possa gostar, tentando deixar claro o que me fez querer compartilhar aquilo com ela;
responder por e-mail os autores, coisa que sempre fiz e que gosto da conexão que isso traz;
usar mais a caixa de comentários das publicações com maior potencial de “debate público”;
usar mais o espaço da minha própria newsletter para comentar vez ou outra as publicações que vi por aqui e das quais gostei, novamente destacando algo mais do que apenas o link;
talvez usar mais o notes daqui nesses mesmos moldes, mas confesso que esse último ainda me deixa com um pé atrás, porque me parece só uma tentativa de “reconstruir” a dinâmica do Twitter, e eu quero mais é que ele entre num foguete pro espaço e exploda ao sair da órbita.
O notes (além de ter a desgraça do like) também tem esse “restack”, que é o retuíte daqui, onde a gente pode só compartilhar um link ou uma nota de outra pessoa, e eventualmente comentar nesse restack. Mas é isso, sem um comentário, sem um extra que possa acrescentar algo, me soa só como um desperdício de energia só compartilhar sem tentar aguçar nos seus amigos um verdadeiro interesse em clicar naquilo.
Esse post não tem o intuito de convencer ninguém de nada. Nem eu mesmo sei se eu já não fui dominado por uma IA e sigo aqui emulando uma existência que já tá mais pra desistência mesmo. Só estou informando que quero tentar não gostar por gostar, no modo automático que os feeds e timelines nos colocaram. Eu não aguento mais rede social. Nem tudo precisa ser uma.
Dito isso, vamos às aleatoriedades:
Comprei uma bicicleta e a
, outra. Agora, somos felizes proprietários de bicis que nos levarão por passeios pelo Minhocão, especialmente agora que moraremos juntos e ainda mais perto do minhocas. (E foi assim que vocês ficaram sabendo dessa novidade: a de que estamos juntando sob o mesmo teto os nossos paninhos de bunda —como diriam os mais velhos— e a caixinha de areia do gato Adoniran).Recentemente, comecei a fazer o curso de construção de personagem ministrado pela sempre excelente
: “Mergulho na personagem”. Tem sido uma ótima experiência, muito divertida e ao mesmo tempo enriquecedora. Tô gostando de voltar a estudar algo que gosto.Também assisti a uma aula da
sobre escrita e isso atiçou ainda mais a minha vontade de ler “Escrita em movimento: sete princípios do fazer literário”, que já comecei e estou amando.Tenho gostado bem da newsletter da
, a , mas tem algo nos vídeos que ela faz pro YouTube que acho que fazem com que eu me conecte ainda mais com suas palavras do que seus textos (e isso não é demérito algum a eles, gosto bastante). Possivelmente, é a tranquilidade na fala que ela tem que foge um pouco da ansiedade generalizada do padrão que a gente se acostumou em vídeos assim. Faz um café ou chá e dá um play sem pressa (velocidade 1x, ok?) nesse que ela fala de como foi fazer um mestrado em letras sendo graduada em jornalismo.Essa semana, fui até o bairro da Pompeia, em SP, ver o Live at Pompeii, do Pink Floyd, que acabou de ser relançado em uma versão remasterizada em 4k para ser exibida em imax. Bom, nada mais justo que a maior tela possível para ver a banda que é, basicamente, a maior coisa que já existiu. Saí com a sensação de que o imax foi inventado pra que a gente vivesse esse momento no futuro, e agora o futuro chegou.
Nesse post abaixo a
emocionou umpouquinhotantão falando do Horácio, seu gatinho que tá passando por umas questões de saúde. Impossível não ir abraçar e beijar nossos companheirinhos depois de ler.
Acho que por hoje é isso. Se gostar, não precisa dar like, mas pode responder o e-mail, mandar o link pra alguém ou deixar algum comentário público. É tudo bem-vindo.
Um beijo, um abraço e um carinho no baço.
Carlos Carvalho
Eu considerava o Substack esse refúgio alternativo uns anos atrás. Mas depois descobri que os criadores daqui têm umas ideias bem tortas também...
Fico nesse mesmo dilema que você, querendo priorizar engajamento do que leio e escrever apenas quando realmente sinto que tenho algo a agregar (só que nessa, acabo adiando e entrando cada vez menos aqui). Enfim...
Em sua homenagem, não deixei o like. :P